O erro não é um pecado!


A ação mediadora do professor, a sua intervenção pedagógica, desafiadora, não pode, ao mesmo tempo, ser uniforme em todas as situações de tarefas dos alunos. Os erros que as crianças apresentam podem ser de natureza diversa.

A observação é o que me possibilita o exercício do aprendizado do olhar. Olhar é como sair de dentro de mim Dara ver o outro. É partir da hipótese do momento de educação que o outro está para colher dados da realidade,para trazer de volta para dentro de mim e repensar as hipóteses. E uma leitura da realidade para que eu possa me ler (Freire, M. 1989, p.3).

Fundamentalmente é necessária a reflexão teórica sobre cada resposta específica do aluno. Não há possibilidade de desenvolvermos procedimentos de intervenção que sirvam de regras gerais, que se apliquem a todas as tarefas, seja qual for a sua natureza. Nenhum extremo é válido: considerar
que sempre devemos dizer a resposta certa para o aluno ou, no outro extremo,considerar que todo e qualquer erro que ele cometa tenha o caráter construtivo e que ele poderá descobrir todas as respostas.

Considerando a aprendizagem no sentido amplo, podemos, entre outras coisas, corrigir o "errando se aprende" por "errando também se aprende": o erro, ou o fracasso não é condição necessária Para haver aprendizagem. Por outro lado, torna-se exagerada, neste contexto teórico,a preocupação"skinneriana" de evitar todo o fracasso Ievando o aluno a produzir somente respostas corretas, pois o fracasso torna-se eventualmente necessário para que o sujeito tome consciência da inadaptação dos seus esquemas e da consequente necessidade de construir novos esquemas, ou seja, reconstruir os já existentes (Becker, 1993, p.97-98).

A tentativa é no sentido de inverter a hierarquia tradicional onde o acerto é valorizado na escola e o erro punido em todas as circunstâncias e, ao mesmo tempo, de ultrapassar o significado da correção/retificação para o de interpretação da lógica possível do aluno diante da área de conhecimento em questão. E nunca é demais repetir que essa ultrapassagem é o ponto de partida para uma ação avaliativa mediadora.
Uma professora mineira disse que seus alunos, finalmente, haviam descoberto que"o erro não é um pecado" e que estavam muito mais corajosos em perguntar e comentar suas tarefas. Passou, então, a ser questionada e a questionar-se a toda a hora. Professor e aluno tornaram-se ambos sujeitos do processo.
A ação avaliativa mediadora está presente justamente entre uma tarefa do aluno e a tarefa Posterior. Consiste na ação educativa decorrente da análise do seus entendimentos, de modo a favorecer a essa criança o alcance de um saber competente, a aproximação com a verdade científica.
Cada tarefa significa um estágio de sua evolução, do seu desenvolvimento e portanto não há como somá-las para calcular médias. Elas complementam-se, interpenetram-se. Como material importante para as ações posteriores, exigem o registro sério e detalhado das questões que se observa. Tais dados não podem, nem devem permanecer como informações generalistas ou superficiais a respeito das manifestações dos alunos. O acompanhamento das tarefas exige um registro sério e significativo que não se reduza o número de acertos ou a conceitos amplos.
Um jovem professor utilizou-se da seguinte frase para colorir a problemática do registro:
 – Nós, professores, sabemos que os alunos não sabem, mas não sabemos o que eles não sabem e muito menos por que eles não sabem!
O receio das famílias e de toda a sociedade às críticas que se fazem em relação a processos avaliativos inovadores carregam o temor da superficialidade de registro pelos professores. E esse, sem dúvida, é um aspecto que deve fazer parte desses estudos.
O tema "correção" envolve, pois, o aprofundamento em todos os aspectos anteriormente esboçados. Mas, dentre todos, exige o princípio essencial de respeitar a criança em suas etapas de desenvolvimento. Acredito que é urgente aos professores incluir a expressão "ainda" no seu vocabulário. Ou seja, ao invés de analisar os exercícios dos alunos para responder: acertou ou não acertou, analisá-los para observar quem aprendeu e quem "ainda" não aprendeu. O fato de incluir-se o "ainda" revela que existe a confiança na possibilidade de a criança estar aprendendo sempre, evoluindo permanentemente em suas hipóteses sobre os objetos e os fenômenos.Ao mesmo tempo, o professor passa a fazer parte do "ainda", comprometendo-se em tornar o.,vir a ser"' possível, em oportunizar-lhes muitos desafios que favoreçam sua descoberta do mundo.

Texto de Jussara Hoffmann. Avaliação Mediadora, 2010.

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